Li
a notícia de que 10 milhões de americanos se aboletaram na página de um site de
venda de ingressos, para disputar vagas num show de Adele nos EUA. O site caiu, saiu do ar com
tanto peso virtual. Tudo isso porque a cantora lançou recentemente seu terceiro
álbum, 25, que está bombando. Vendeu 3,3 milhões de cópias na primeira semana
de lançamento.
Entendi
o comportamento dos fãs americanos imediatamente. Sei por que isso acontece. Sei
por que Adele é irresistível, por que consentimos seu chamado, sereia dos novos
tempos, profetisa do novo blues. É porque existe amor e dor. Há um desencanto
no seu canto difícil de se encontrar em outras vozes.
Sua
voz chora dentro de nós também. O som de seu gemido dói de um modo profundo, e a
gente sente a dor que ela canta, a gente sente vontade de colocá-la no colo e
confortá-la. A gente a ama por isso.
Seus
olhos tristes compõem o quadro da dor do amor. Todo mundo fala de amor, menos
os trouxas. Todo mundo sente a correnteza do amor passar um dia ou outro, menos
os insensíveis. Somos a corrente dessa eletricidade triste e densa impulsionada
pela voz de Adele, e quando a vemos, entendemos mais claramente. Seus olhos são
a expressão e a extensão da sua voz. É isso.
Seu
canto é como um poesia profunda, condensação fabricada a partir da voz e do
lirismo doído. Bastam meros cinco segundos para nos prender e nos levar juntos,
sem salvação. Estaremos então presos na dor, embriagados na liquidez de seus
olhos tristes, na tessitura de sua voz pedinte e potente, poderosamente
solicitante de que fiquemos ali, de que a amemos, e a amamos.
Mesmo
nas baladas mais ligeiras, como Set fire
to the rain, dá pra sentir essa sensação de dor e de pedido de socorro de
Adele. E essa marca é tão forte que já faz escola. Andra Day, cantando Rise up é fruto dessa escola. É claro
que Adele não inventou a técnica de elevar a voz ao patamar da tristeza
encorpada pela destreza vocal. Janis Joplin também fazia isso. Há outras, como
Norah Jones e Katie Melua e a genial Billie Holliday. Mas neste quesito (dor do amor traduzida na voz), Adele é quase insuperável.
Adele cantando When we were young, do álbum 25
...
Um comentário:
Gostei muito. Retratou muito bem o sentimento que nos envolve quando ouvimos Adele...
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