segunda-feira, 26 de outubro de 2009

RESPOSTA DO AUTOR DE INÉRCIA

O autor do romance Inércia, Marcos Vinícius Almeida, deu uma reposta simpática e cheia de humildade à resenha do Leituras do Giba sobre seu livro. Ele corrige o erro cometido por mim (leia), quando citei um trecho do romance, imaginando que o narrador se referia ao físico inglês Isaac Newton, quando, na verdade, a passagem se refere a Isaque, personagem bíblico. Como teve a gentileza de me enviar a observação, retribuo fazendo a tréplica em público.

Não adianta, quando a gente erra tem de assimilar o baque. Neste caso, cometi um equívoco, por absoluta falta de atenção. É claro que Juan, personagem do romance de Almeida, se refere a Isaque com a grafia anglossaxã (Isaac).

Leio a Bíblia, e sempre me deparei com o nome do filho de Abraão com a grafia 'Isaque'. Não dá para analisar isso agora, mas, o que me vem à cabeça é que ou Juan costumava ler a Bíblia em inglês ou ele, Juan, é quem quis ser anglicista, ou, em última hipótese, a tradução da Bíblia do autor traz essa grafia, e por isso ele se acostumou a escrever assim.

No fim do texto, Almeida diz: “Fora isso, é sempre bom ouvir a opinião de leitores. Recebi alguns e-mails carinhosos. Sinal que, mesmo com a inerente falta de talento e limitação vaidosa deste jovem caipira que toma o tempo de pessoas de bem, alguma coisa salva.”

O autor se refere a si mesmo como “jovem caipira” dono de uma “inerente falta de talento.” É claro que a inteligência de cada um, na perspectiva do autoexame, outorga ao sujeito a possibilidade de se achar sem determinadas qualidades. Mas neste caso, parece mais modéstia em excesso, no que diz respeito à falta de talento.

Além de ser muito jovem, com apenas 27 anos, só publicou um livro e alguns contos em coletânea. Dê ao leitor, senhor Almeida, já que é bom ouvir a opinião dele, a oportunidade de fazer juízo desse talento, escrevendo mais, apurando a técnica. Eu particularmente não tenho a habilidade para ser romancista, mas busco na leitura o entendimento da arte de escrever.

Agora, quanto a ser um jovem caipira, é uma blague interessante, mas só para contrapor à visão urbana de alguns, quando estes são pernósticos o bastante para se acharem capazes de viver sem o olhar do homem que vem do interior do país. Em todo caso, a arte é universal. E quem sabe ler melhor a cidade ou o campo é sempre o gênio, não importa se tenha nascido na grande capital ou no mais simples vilarejo.

Se por um lado, temos Machado de Assis (do Rio de Janeiro), James Joyce (Dublin) e os autores austríacos, que quase sempre são de Viena, por outro, temos Carlos Drummond de Andrade (Itabira), Guimarães Rosa (Cordisburgo) e William Shakespeare (que foi de Stratford para Londres).

Ainda em matéria de ser caipira, temos também um grande exemplo na filosofia (que, a rigor, é o campo do saber que mais exige da urbanidade e das relações amigáveis da cidade): Heidegger. Ele nasceu numa cidadezinha do interior da Alemanha (Messkirch) e conquistou o mundo com sua filosofia, deixando uma frase lapidar sobre a linguagem, que o remete à sua origem da roça, da charrua. “O pensar abre sulcos invisíveis na linguagem.” Uma frase dessa é capaz de criar uma teoria inteira.

2 comentários:

whisner disse...

O Marcus Vinícius é um bom escritor. Vai longe.

Gilberto G. Pereira disse...

Também acho.