É
preciso ler Jorge Amado, por várias razões. Quem não achar nenhuma (quase
impossível, porque o homem é o maior paisagista do Nordeste, um grande criador
de tipos, o romancista mais sensual do país, no sentido de imprimir os sentidos
e de provocá-los também), dou um:
Comece
por Tieta do agreste. Se achar que o romance tem muitas páginas e você não é de
ler livros que se sustentam em pé sozinhos, leia as aberturas de capítulos, que
são sensacionais. Aliás, comece pelo extravagante subtítulo.
Tieta
do agreste – pastora de cabras ou a volta da filha pródiga, melodramático
folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e
suspense.
Veja
algumas aberturas de capítulos, de tradição machadiana, para não irmos a Stern,
nem a Swift:
“Exórdio
ou introdução onde o autor, um finório, tenta eximir-se de toda e qualquer
responsabilidade e termina por lançar imprudente desafio à argúcia do leitor
sibilina pergunta.”
“Breve
explicação do autor para uso daqueles que catam pulgas em elefante.”
“Onde
Ricardo, sobrinho e seminarista, acende velas contraditórias aos pés dos
santos; capítulo banhado em lágrimas, algumas de crocodilo.”
“Onde
dona Carmosina lê um artigo, resolve problema de palavras cruzadas e problemas
referentes à situação de Tieta, dignos dos mais sagazes detetives dos romances
policiais e onde se trava conhecimento com o comandante Dário de Queluz,
surgindo ao final do capítulo o vate Barbozinha (Gregório Eustáquio de Matos
Barbosa), de coração partido.” Ou seja, não há mais para ler, já contou tudo.
“Enquanto
o leitor respira, o autor se aproveita e abusa.”
E
por aí vai. Só mais um:
“Onde,
nesta altura da narrativa, apresenta-se personagem nova, mais uma puta, por
sinal, num livro em que já existem tantas”. Jorge Amado era porreta. O irmão
dele, James, faleceu ontem (R.I.P.).
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