segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Jorge Amado, o porreta

É preciso ler Jorge Amado, por várias razões. Quem não achar nenhuma (quase impossível, porque o homem é o maior paisagista do Nordeste, um grande criador de tipos, o romancista mais sensual do país, no sentido de imprimir os sentidos e de provocá-los também), dou um:

Comece por Tieta do agreste. Se achar que o romance tem muitas páginas e você não é de ler livros que se sustentam em pé sozinhos, leia as aberturas de capítulos, que são sensacionais. Aliás, comece pelo extravagante subtítulo.

Tieta do agreste – pastora de cabras ou a volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense.

Veja algumas aberturas de capítulos, de tradição machadiana, para não irmos a Stern, nem a Swift:

“Exórdio ou introdução onde o autor, um finório, tenta eximir-se de toda e qualquer responsabilidade e termina por lançar imprudente desafio à argúcia do leitor sibilina pergunta.”

“Breve explicação do autor para uso daqueles que catam pulgas em elefante.”

“Onde Ricardo, sobrinho e seminarista, acende velas contraditórias aos pés dos santos; capítulo banhado em lágrimas, algumas de crocodilo.”

“Onde dona Carmosina lê um artigo, resolve problema de palavras cruzadas e problemas referentes à situação de Tieta, dignos dos mais sagazes detetives dos romances policiais e onde se trava conhecimento com o comandante Dário de Queluz, surgindo ao final do capítulo o vate Barbozinha (Gregório Eustáquio de Matos Barbosa), de coração partido.” Ou seja, não há mais para ler, já contou tudo.

“Enquanto o leitor respira, o autor se aproveita e abusa.”

E por aí vai. Só mais um:


“Onde, nesta altura da narrativa, apresenta-se personagem nova, mais uma puta, por sinal, num livro em que já existem tantas”. Jorge Amado era porreta. O irmão dele, James, faleceu ontem (R.I.P.).

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