Se
os filósofos cavucam amorosamente o chão da existência para descobrir verdades,
questioná-las, demovê-las, e os poetas estão ao seu lado como guardiões da
linguagem, segundo Heidegger, é possível dizer, por uma certa linha de
raciocínio, que no resultado final da poesia, sua leitura também nos mostra verdades,
além da finalidade estética.
Se
na filosofia, a verdade é dada ou provocada por meio de um amor crítico, na
poesia, essa verdade vem por meio de uma beleza crítica, em crise. É a estética
sendo cavucada também, cujo resultado não é apenas o belo. A beleza tem várias
categorias (na poesia, e nas artes de modo geral, também é bonito ser feio,
veja o Corcunda de Notredame), como o sublime, o grotesco, o trágico, o cômico e
o horror, meu Deus, o horror.
A
poesia também nos dá a oportunidade de ver o horror, olhar pra ele, cavucá-lo,
como nas ocasiões de guerra (pode ser a guerra dentro da gente, a la Leminski,
pode ser a guerra em família, e os horrores que certos pais e mães fazem com
seus filhos, pode ser o horror que certos filhos fazem com seus pais, o horror
da exploração, o horror), como pode uma vida resistir? O horror faz parte da
poesia porque faz parte da vida, e quando a guerra acaba, a vida persiste. E a
poesia também.