terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O Irlandês é um filme imenso

De Niro não foi indicado ao Oscar (Joe Pesci e Al Pacino, sim, como coadjuvantes), mas sua atuação é digna do grande filme que é O Irlandês, e ele conduz a trama inteira 

A primeira vez que tentei ver O Irlandês, não consegui. Parei nos 30 minutos (das 3 horas e meia de filme). Achei o filme lento demais. Ainda assim, nessa primeira meia hora, fiquei impressionado com a atuação de Joe Pesci, contida, sustentando um tom dramático absoluto, sem resvalar na comédia, justo ele que sempre foi engraçado. 

Todo mundo já dizia que o filme seria indicado ao Oscar, como foi em 10 categorias. Ontem decidi ver o filme do começo ao enfim. Entre um bocejo e outro, comecei a prestar atenção nos detalhes das cenas, passei a seguir as indicações do roteiro. Terminei de ver, e fui ver de novo para apreciar o fio da narrativa.

O Irlandês é um filme imenso, e me sinto envergonhado de dizer isso só depois de estar legitimado pela crítica e pela Academia de Hollywood. Mas é uma aula de direção. Há momentos em que a cena é sustentada pelo silêncio, e a câmera capta nos gestos de Robert De Niro toda a tragédia que se anuncia, todo o drama de chegar até ali matando pessoas.

A história da máfia, com suas famílias cheias de vida e de amor, e de empreendedorismo, e de traição, e a morte como a moeda mais corrente, está encerrada nesse filme de modo magistral. Existe uma dor que atravessa a narrativa, e uma consciência de que não há esperança nenhuma que também é muito cortante.

De Niro não foi indicado ao Oscar (Joe Pesci e Al Pacino, sim, como coadjuvantes), mas sua atuação é digna do grande filme que é O Irlandês, e é ele quem conduz a trama inteira, fazendo dois papéis ao mesmo tempo. 

Faz um papel visível, que é o de um assassino profissional que serve a dois senhores, matando gente (enquanto lida com o drama doméstico de não saber como amar as filhas e a mulher, sendo um assassino).

O outro papel é quase imperceptível. É o de um velho largado num asilo falando sozinho (sutilmente sugerido), narrando a história da máfia que ele mesmo ajudou construir e que sobreviveu a ela, guardando um segredo que jamais contou para as autoridades (quem matou Jimmy Hoffa).

Martin Scorsese concorre ao Oscar de Melhor Diretor, mas concorre com Quentin Tarantino, cujo filme Era uma vez em... Hollywood pode levar o prêmio este ano.

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