Lit Reactor
“Se você disseca Ulysses, dá um tuíte.” A frase de Paulo Coelho que sacudiu o mundo das letras, que levou gente supostamente educada e entendedora de linguagem e viagem literária a levantar os punhos imaginários contra o mago é uma das coisas mais geniais que ele já disse.
Se eu tivesse tempo e talento, se eu fosse editor de um grande veículo, perderia algumas horas de meus dias editando os melhores livros do mundo no espaço de um tuíte. Já imaginou Em busca do tempo perdido em 140 toques? Quão profundo seria cada tuíte!
Não quero aqui fazer anedota, mas lembro-me ter lido que, quando os terroristas de Bin Laden meteram dois aviões cheios de gente nas torres gêmeas, e nos dias seguintes a imprensa não falava em outra coisa, o compositor alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007) disse que aquela colisão era a maior obra de arte da história.
Ainda não existia a engenhoca virtual, mas Stockhausen resumiu o sublime do fato inteiro, com toda a dor e espanto, o desespero e o arroubo de coragem e valentia americana na sequência, em apenas 25% do espaço que exige o tuíte. É claro que o mundo reagiu à leitura do sábio artista. Sua filha chegou a chamá-lo de velho demente. Faz parte.
Voltemos ao Paulo Coelho e sua sacada, ou estocada. Seria bonito ver a explosão reveladora de Ulisses em 140 toques. O autor de Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei não disse com esse viés poético, foi ironia pura, mas isso não arranca pedaço e só ofende os tapados de ouvidos e de olhos, só espinafra mesmo os que não sabem ouvir sereias.
Essa semana, Coelho voltou a tocar no assunto, em função da polêmica gerada. Um jornalista britânico disse que o risinho que Coelho tirou da cartola foi um insulto aos leitores de James Joyce, e o mago mais mágico do mundo (que fez sua conta engordar midasmente escrevendo livros de narrativas fáceis) reagiu, em entrevista à Folha de S. Paulo: “E meus leitores, insultados todos estes anos?”
Paulo Coelho foi genial. Eu morri de rir (depois ressuscitei lendo Shakespeare) quando vi a entrevista que trazia a frase. É bom lembrar que genialidade não quer dizer eficácia, quer dizer algo feito ou dito de maneira extraordinária. É extraordinário perceber mister Rabbit com essa coragem toda em pleno lançamento de mais um livro. Bravo!
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