Senhoras e senhores esta é a nossa polícia. Este blog não tem nada a ver com a violência ou com a política, é um blog que se pretende alienado dos assuntos diários, porque se for se ocupar deles, a literatura sai perdendo.
A literatura serve justamente para romper com a estabilidade da mesmice, romper com a monotonia da vida prática e apontar novas perspectivas de sentimento, de ideias, alcançar outros pontos de prazer estético que nos iluminam a via escura da existência.
Mas às vezes é preciso jogar um pouco de realidade em nosso campo, um tipo de realidade cotidiana que precisa ser mudada. Ninguém pede à polícia que dê tapinha nas costas de bandido, pede apenas que cumpra a lei, siga as normas do Estado democrático de direito e pare de fomentar a violência. Tem o monopólio dela, e por isso mesmo deve ter a responsabilidade de saber contê-la e não disseminá-la.
Segue o texto publicado no site do UOL desta quinta-feira, 2. Esse tipo de ação desastrosa e violenta sempre acontece, não é fato isolado coisa nenhuma. Fato isolado é a informação disso na mídia.
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Careca após químio, homem é confundido com criminoso em SP
LAURA CAPRIGLIONE
JOEL SILVA
DE SÃO PAULO
O fotógrafo Lecio Panobianco Jr., 52, denuncia que, na última segunda-feira, foi obrigado por soldados do Tático Móvel da PM a passar duas horas em pé na avenida Sapopemba (zona leste de São Paulo), diante de seus vizinhos e, segundo ele, com uma submetralhadora apontada para o abdome, sendo xingado aos gritos de "ladrão sem vergonha", "careca safado", "vagabundo" e "cara de quem não vale nada".
O detalhe é que que Panobianco tem um câncer grave na região inguinal. Por causa disso, enfrenta agora a terceira temporada de quimioterapia, na tentativa de reduzir a velocidade de crescimento de um tumor invasivo. Ainda terá de enfrentar uma cirurgia. Tem aspecto doentio, perdeu os cabelos, está fraco.
"Eu sinto muito frio na cabeça, por isso ando sempre de gorro. Percebi que o tenente não gostou da minha aparência. Até reconheço que pareço um dependente, um drogado. Mas minha droga é a quimioterapia", disse.
O fotógrafo tentou esclarecer os policiais sobre a doença. "Foda-se você e sua quimioterapia", respondeu-lhe um tenente, afirma ele.
A abordagem da PM foi motivada pela denúncia de uma mulher. Ela e o marido estacionaram o automóvel Gol em que se encontravam na avenida Sapopemba e separaram-se. Ela dirigiu-se ao supermercado Da Praça, enquanto o marido foi a outras lojas na própria avenida.
Quando saía com as compras, a mulher viu um estranho dentro do seu carro. Correu para chamar o marido. A polícia foi acionada. Quatro carros da Força Tática chegaram ao local, exatamente quando Panobianco, que é vizinho do supermercado, conversava com um pedreiro. A mulher apontou para o fotógrafo e disse: "Foi ele".
Os policiais não perguntaram seu nome e não fizeram verificação de antecedentes.
Funcionários do supermercado e de uma loja de rações animais ao lado tentavam avisar aos PMs de que a denúncia não passava de um engano, que Panobianco era pessoa "de bem", "não é quem vocês estão pensando", mas eles não aliviaram.
Quando tentava falar com os policiais, o fotógrafo tinha de, antes de cada frase, chamá-los de "senhores". O tenente, segundo ele, ainda disse: "Cala a boca. Se eu te levar daqui vai ser muito pior".
Um segurança do Da Praça disse à Folha que foi falar com os policiais, alegando que "bandido nenhum tentaria roubar um carro e depois ficaria por ali, dando bobeira". Sem sucesso.
Foi só quando, enfim, a mulher admitiu que não tinha certeza da sua acusação, que os policiais chamaram o Copom e fizeram a pesquisa sobre antecedentes: "Deu nada consta", lembra o segurança. Soltaram o fotógrafo.
"Não recebi nenhum pedido de desculpas. O sargento mais uma vez me chamou de 'careca vagabundo', mandou eu pegar o gorro no chão e me dispensou", lembra.
Panobianco ainda não foi à Corregedoria por causa do seu estado de saúde. Pretende fazê-lo. "Me senti como um judeu atacado por soldados da SS. Mas eu não tenho mais nada a perder. Cansei de ficar calado", disse.
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