Existe
no Brasil uma casta de gente que podemos chamar de capitães do mato do racismo
à brasileira. As pessoas que compõem esse grupo, e não são poucas, se não são
racistas, compraram mui facilmente o discurso racista, segundo o qual “um negro
deve saber qual é o seu lugar”, ou seja, um negro deve saber que seu lugar é a
senzala moral.
É
com essa cartilha na mão que os capitães do mato do racismo à brasileira reagem
quando um negro reage ao racismo. Se o sujeito é chamado de macaco e vai aos
tribunais, os capitães do mato do racismo à brasileira começam a xingá-lo de
aproveitador, dizem que o negro quer aparecer. Ou seja, só porque rebaixaram-no
à condição de animal irracional, tiraram-lhe a dignidade humana (coisa que, na
visão dos capitães do mato do racismo à brasileira, o negro não tem), só por
isso, o negro se acha no direito de reclamar!, vociferam.
Enganam-se
os que pensam que os capitães do mato do racismo à brasileira são todos
branquinhos. Nunca foram puros. Há os branquinhos de fato que criaram o discurso,
sistematizaram-no, levaram-no para as cátedras (imaginárias e reais) e há os
que aceitaram, subjugaram-se, curvaram-se ou por falta de malícia ou por má-fé,
ou por interesses particulares, por conveniências.
Além
de brancos, ainda hoje existem mestiços e alguns negros desavisados que acham
que os escravagistas (e suas crias ascendentes) que chicotearam os negros,
estupraram as meninas negras (seviciaram a todos psicologicamente, fisicamente,
moralmente, intelectualmente, cada um a seu modo), do século XVI ao XIX, se
tornaram cidadãos limpinhos da sujeira escravagista, tornaram-se apoiadores dos
negros. Seus bisnetos hoje seriam homens que lutam contra o racismo no Brasil.
Há sempre exceções, mas não é com elas que vamos mudar o rumo dessa história.
Se
eu tivesse a possibilidade (sem ser notado) de estar na cozinha de cada um
desses legisladores morais da consciência histórica brasileira, e os
acompanhasse até a sala de jantar em família, e os ouvisse falando “os negros
no Brasil e os mestiços, incluindo também os índios, são merecedores de uma
participação maior na vida social brasileira, merecem respeito, têm o direito
de reagir contra a violência, a polícia faz muito mal em ver um negro e
espancá-lo, xingá-lo com ódio, estou preocupado com isso, temos de fazer alguma
coisa, vamos fazer alguma coisa”, ainda assim eu desconfiaria. Mas, em todo
caso, está claro quem são os legisladores. O que a gente não sabe bem quem é,
porque misturados demais e só aparecem em situações em que um negro denuncia o
racismo, são os capitães do mato do racismo à brasileira. Esses lascam nossa
condição. Esses nos caçam diariamente.
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