O tempo é
uma relação de causa e efeito com o espaço e o movimento dos
corpos. É uma relação que interage não só na cultura humana, mas
em toda a cadeia animal, pois o tempo passa por todos os seres e age
sobre todos os reinos. Mas no entendimento humano, no plano da
consciência, o tempo torna-se mais complexo porque se bifurca. Neste
caso, há o tempo exterior, a passagem dos dias que cotidianamente
acompanham os organismos funcionando e se desgastando, e o tempo
interior do homem, que o segue e o pressiona na construção da
subjetividade. É nesse mar de tempo, com o sujeito se contrapondo à
exterioridade, que a vida nada.
Essa
experiência temporal está ligada a praticamente tudo na nossa
existência, e é a responsável direta pelo exercício da
inteligência humana. A inteligência treinada sabe dosar a dinâmica
do tempo com a intuição sobre aquilo que virá. E é aí que entra
outro componente fundamental, o ritmo. Nos passos dessa dança gira
quase tudo.
Em 1998,
o biólogo britânico Richard Dawkins escreveu um livro lindo, na
malograda tentativa de convencer os poetas de se inspirarem na
ciência. Não é demérito o malogro, mesmo porque trata-se de um
fracasso apenas na visão de quem vê a poesia como espaço da
liberdade forjada pelo engenho imaginativo. Os poetas querem dar asas
à imaginação, e a ciência as podaria com a navalha de Ockham.
Nesse
livro, intitulado Desvendando o arco-íris: ciência, ilusão e encantamento, Dawkins fala de mil coisas belas que a ciência
pode proporcionar à criatividade poética, mas a única sensata é a
noção de ritmo, justamente porque ela se aplica à vida toda. Ele
fala do ritmo biológico, o ciclo da vida atrelado à dança do
universo, à dinâmica do espaço que tudo rege, na pulsação sem
fim das estrelas e nas jornadas noite e dia dos objetos espaciais.
O ritmo
realmente decanta a vida, encanta os sentidos. Cada célula tem um
tempo e um espaço adquirido para ir se transformando. Cada pessoa
caminha de um jeito, corre, come, respira, dorme e se levanta de um
modo específico. O amor surge e desaparece em ritmos que dependem de
cada um de nós. Tempo e sexo (ninguém atinge o orgasmo do mesmo
modo, nem na extensão temporal, nem no jeito de mover os corpos
entrelaçados). Tempo e vida. Tempo e jogo. Amor e tempo.
Segundo
Dawkins, na dança do universo, dos diversos ritmos que marcam a
passagem dos objetos no espaço, como o ritmo orbital da Terra de 365
dias em torno do Sol, o mais trágico é o ritmo de extinção que
traz um fenômeno catastrófico a cada 250 milhões de anos. A última
vez que esse comprimento de onda nos atingiu há 65 milhões de anos
matou 90% dos seres vivos e dizimou os dinossauros. Mas há outro
comprimento de onda que nos atinge a cada 26 milhões de anos. Nem
saias rodadas, nem meneios esplêndidos. No universo, a dança às
vezes é fúnebre demais.