quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Morre Salinger

O recluso Salinger, em 1963, aos 44 anos

“Só escrevo para mim mesmo e para o meu prazer.” Apesar dessa confissão egoísta, o escritor J. D. Salinger deu ao mundo pop um livro valioso, O apanhador no campo de centeio, em que imortalizou o enjoadinho, irascível e sensível personagem adolescente Holden Caufield. Muita gente sentiu prazer e estranhamento lendo esse romance que influenciou mais gerações do que deveria.

Salinger publicou O apanhador no campo de centeio ainda jovem, aos 32, em 1951. Li o livro na casa dos vinte anos, com uma carga de leitura que não me permitiu apreciá-lo tanto, reconhecendo, no entanto, a razão estética de ele existir. O título do livro em inglês é The catcher in the rye. Mais tarde, Charles Bukowski, em 1982, viria a publicar Misto-quente, que em português não revela nada de alusivo, mas em inglês, Ham on rye, sim. Sou mais Bukowski, que era mais John Fante.

Agora, aos 91 anos, o recluso Salinger vem a falecer. Parte para uma reclusão particular ao extremo, a morte. O apanhador no campo de centeio vai continuar conquistando muitos. Eu, do meu lado, continuo achando Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, mais interessante.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Teoria da cócega – ou coçando o cocuruto


Há uma teoria segundo a qual as músicas mais enjoativas, aquelas do tipo You’re beautiful, de James Blunt (às quais, diga-se de passagem, sou muito suscetível, tenho profunda compaixão pela cultura pop), são as que mais grudam no cérebro da gente. Permanecem como cócegas em áreas do cérebro muito sensíveis, que não me recordo agora quais sejam.

Acontece que essa teoria também serve para preocupações dentro do seleto grupo da crítica de arte dita séria e profunda. Agora mesmo, uma trupe de italianos (do Comitê Nacional para a Valorização dos Bens Históricos, Culturais e Ambientais da Itália) quer exumar o corpo (os restos, os finos ossos, sei lá) de Leonardo da Vinci, só para reconstruir a face do artista e tirar a prova dos nove se é ou não o traço de seu rosto estampado no quadro Monalisa (Leia).

Essa ideia fixa na identidade do modelo são ou não cócegas no cérebro? Que diferença poderia fazer? Se já se soubesse isso de antemão, o quadro teria deixado de ser enigmático? O sorriso de Monalisa teria mudado de ângulo? Teria deixado de ser oblíquo, enviesado? E se o rosto for uma abstração, uma figura retirada das profundezas da imaginação do gênio? Pura criação? Elevam Da Vinci ao mais alto grau da genialidade, mas não dão ao rapaz o direito de ser imaginativo a ponto de criar uma Monalisa sem cópia natural. Ainda bem que a essa altura, o pintor já não tem mais saco.