Fotos: Gilberto G. Pereira
A voz de Maria Eugênia, seu domínio de palco, suave e vivaz, e os arranjos novos para as músicas já consagradas foram a tônica dominante do show |
Maria Eugênia é uma cantora goianiense com uma estrela imensa, mas que parece ter escolhido ser regional. Consagrada na elite cultural de Goiás, ela é pouco conhecida nacionalmente. Tem uma voz estupenda, limpa e elástica, uma voz de timbre muito valorizado no universo da MPB, e se quisesse estaria entre os nomes mais apreciados do país.
Ela tem uma inegável trajetória de sucesso. Canta desde a adolescência. Começou em 1986, e desde meus 14 anos eu ouço Maria Eugênia nas rádios de Goiânia, vejo cartazes de seus shows, entrevista suas na televisão. Houve uma época em que ela morou no Rio de Janeiro, fez shows internacionais. É amiga de muitos artistas do mainstream. Cantou a belíssima canção Companheiro, abertura da novela Araguaia (2010-2011), da Rede Globo.
Para mim é um mistério não a ver no hall das cantoras nacionais. Assisti a um show seu no Teatro Sesc-Centro, em Goiânia, na noite de quinta-feira (19 de julho de 2018), intitulado Fui Eu, com uma seleção de músicas do cardápio do rock nacional dos anos 1980, e foi muito bom.
O que não era rock, ela convertia para o gênero, como Paula e Bebeto, de Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Qualquer maneira de amor vale a pena/ qualquer maneira de amor vale amar”), cujo arranjo trazia semelhanças com o riff de Satisfaction, dos Rolling Stones.
Me chama, de Lobão, ficou mais solar, mais alegre no arranjo preparado pela banda que acompanha Maria Eugênia, que também cantou Gilberto Gil (A novidade), Barão Vermelho, Rita Lee e compositores regionais. Todas as músicas estarão no próximo álbum que a cantora está gravando.
Não sei falar de música. Meu consumo diário é literatura. O que me motivou a registrar esse momento foi um fato curioso que me ocorreu na bilheteria quando fui comprar os ingressos para o show da cantora goianiense.
Na tarde do dia do show, eu estava na fila da bilheteria, e quando me virei, atrás de mim estava a própria Maria Eugênia, rosto muito conhecido aqui em Goiânia. “Você é a Maria Eugênia ou é uma pessoa muito parecida com ela”, brinquei. “Sim, sou eu mesma”, disse ela, sorrindo.
“Estou comprando ingresso para seu show”, eu disse. Ela agradeceu sorrindo e disse “eu também, para meus amigos, antes que acabe”. Pedi para tirar uma foto com ela. À noite, o show estava lotado, no intimista e aconchegante espaço do teatro. Ela abriu com uma música do Cazuza (O tempo não para).
No início, senti um leve descompasso de afeto entre ela e a banda, composta pelo guitarrista Luiz Chaffin, marido dela, Marcelo Maia (baixo) Fred Valle (bateria) Edilson Moraes (percussão). Mas logo sua presença de palco foi iluminando o músicos.
A voz de Maria Eugênia, seu domínio de palco, suave e vivaz, e os arranjos novos para as músicas já consagradas foram a tônica dominante do show. Tudo isso é incrível, mas a mim o que me tocou foi sua gentileza. É o que permanece de mais agradável num artista.
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Maria Eugênia e sua banda, composta pelo guitarrista Luiz Chaffin, marido dela, Marcelo Maia (baixo) Fred Valle (bateria) Edilson Moraes (percussão) |