Sandra Bullock, Thomas Horn e Tom Hanks: mãe, filho e pai em Tão forte e tão perto, filme ambientado na Nova York pós-11/09 |
Não há espaço para ódio neste blog. Eventualmente uma ranzinzice crítica. Mas o amor às narrativas é o grande juiz aqui, a peneira vigente desta plataforma. Este é o lugar da paixão movedora de interesses afetivos.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Perdas servem para descobertas
sábado, 21 de julho de 2012
A modernidade encalacrada na memória: vida e tempo
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Deu a louca na Barbara Gancia?
A jornalista e colunista da Folha de S. Paulo, Barbara Gancia, parece ter sofrido uma espécie de lapso intelectual, se é que isso existe, ou bebeu muito no dia que resolveu responder a um texto do psicanalista Contardo Calligares, também colunista da Folha.
Sem levar em conta minha preferência intelectual, e o fato de eu raramente ler tanto Calligaris quanto Barbara, me deparei com os dois textos, que seguem abaixo e vejam vocês mesmos que loucura.
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CONTARDO CALLIGARIS [Folha de S. Paulo, Ilustrada 12 de julho de 2012]
Os outros que ajudam (ou não)
Amigos e próximos, em vez de nos ajudar com reforços positivos, torcem contra nossos esforços para mudar
Muitos anos atrás, conheci um alcoólatra, que, aos 40 anos, quis parar de beber. O que o levou a decidir foi um acidente no qual ele, bêbado, quase provocara a morte da companheira que ele amava, por quem se sentia amado e que esperava um filho dele.
O homem frequentou os Alcoólatras Anônimos. Deu certo, mas, depois de um tempo, houve uma recaída brutal. Desanimado, mas não menos decidido, com o consenso de seu grupo dos AA, o homem se internou numa clínica especializada, onde ficou quase um ano -renunciando a conviver com o filho bebê.
Ele voltou para casa (e para as reuniões dos AA), convencido de que nunca deixaria de ser um alcoólatra -apenas poderia se tornar, um dia, um "alcoólatra abstêmio".
Mesmo assim, um dia, depois de dois anos, ele se declarou relativamente fora de perigo. Naquele dia, o homem colocou o filhinho na cama e, enfim, sentou-se na mesa para festejar e jantar.
E eis que a mulher dele chegou da cozinha erguendo, triunfalmente, uma garrafa de "premier cru" de Château Lafite: agora que ele estava bem, certamente ele poderia apreciar um grande vinho, para brindar, não é?
O homem saiu na noite batendo a porta. A mulher que ele amava era uma idiota? Ou ela era (e sempre tinha sido) companheira, não da vida do marido, mas de sua autodestruição? Seja como for, a mulher dessa história não é um caso isolado.
Quem foi fumante e conseguiu parar, quase certamente encontrou um dia um amigo que lhe propôs um cigarro "sem drama": agora que você parou, vai poder fumar de vez em quando -só um não pode fazer mal.
Também há parentes e próximos que patrocinam qualquer exceção ao regime que você tenta manter estoicamente: se for só hoje, uma massa não vai fazer diferença, nem uma carne vermelha. Seja qual for a razão de seu regime e a autoridade de quem o prescreveu, para parentes e próximos, parece que há um prazer em você transgredir.
Em suma, há hábitos que encurtam a vida, comprometem as chances de se relacionar amorosa e sexualmente e, mais geralmente, levam o indivíduo a lidar com um desprezo do qual ele não sabe mais se vem dos outros ou dele mesmo.
Se você precisar se desfazer de um desses hábitos, procure encorajamento em qualquer programa que o leve a encontrar outros que vivem o mesmo drama e querem os mesmos resultados que você. É desses outros que você pode esperar respeito pelo seu esforço -e até elogio (quando merecido).
Hoje, encontrar esses outros é fácil. Há comunidades on-line de pessoas que querem se livrar de seu sedentarismo, de sua obesidade, do fumo, do alcoolismo, da toxicomania etc. Os membros de uma comunidade registram e transmitem, todos os dias, seus fracassos e seus sucessos. No caso do peso, por exemplo, há uma comunidade cujos membros instalam em casa uma balança conectada à internet: o indivíduo se pesa, e a comunidade sabe imediatamente se ele progrediu ou não.
Parêntese. A balança on-line não funciona pela vergonha que provoca em quem engorda, mas pelos elogios conquistados por quem emagrece. Podemos modificar nossos hábitos por sentirmos que nossos esforços estão sendo reconhecidos e encorajados, mas as punições não têm a mesma eficácia. Ou seja, Skinner e o comportamentalismo têm razão: uma chave da mudança de comportamento, quando ela se revela possível, está no reforço que vem dos outros ("Valeu! Força!").
Já as ideias de Pavlov são menos úteis: os reflexos condicionados existem, mas, em geral, se você estapeia alguém a cada vez que ele come, fuma ou bebe demais, ele não parará de comer, fumar ou beber -apenas passará a comer, fumar e beber com medo.
Volto ao que me importa: por que, na hora de tentar mudar um hábito, é aconselhável procurar um grupo de companheiros de infortúnio desconhecidos? Por que os próximos da gente, na hora em que um reforço positivo seria bem-vindo, preferem nos encorajar a trair nossas próprias intenções?
Há duas hipóteses. Uma é que eles tenham (ou tenham tido) propósitos parecidos com os nossos, mas fracassados; produzindo nosso malogro, eles encontrariam uma reconfortante explicação pelo seu.
Outra, aparentemente mais nobre, diz que é porque eles nos amam e, portanto, querem ser nossa exceção, ou seja, querem ser aqueles que nós amamos mais do que nossa própria decisão de mudar. Como disse Voltaire, "Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu".
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BARBARA GANCIA [Folha de S. Paulo, Cotidiano, 13 de julho de 2012 ]
Um convite a Contardo Calligaris
Alguém consegue explicar a má vontade dos médicos tapuias em relação aos Alcoólicos Anônimos?
A COLUNA do Contardo Calligaris de ontem, que menciona seu amigo alcoólatra estimulado a voltar a beber pela mulher foi um clássico. Um clássico equívoco a ser evitado.
Costumo ler o Contardo de joelhos. Mas não ontem. Ali ele trivializou um assunto que não só conheço bem, como sou testemunha diária dos efeitos devastadores que produz, inclusive pela negligência com que é tratado. Não dá para entender a má vontade dos profissionais do país com os Alcoólicos Anônimos, uma irmandade reconhecida no mundo todo pelos excelentes serviços que presta.
O texto de Calligaris me remeteu ao hepatologista de Tarso de Castro, que chegou ao cúmulo de liberar o jornalista, dependente, para tomar uma taça de vinho ao dia.
Não sou especialista, apenas alguém que padece de uma doença que a Organização Mundial da Saúde define como "incurável, progressiva e mortal". E posso atestar que o texto serviu de luva para reafirmar o propósito de que problemas relativos ao álcool devem ser tratados dentro da sala dos Alcoólicos Anônimos, bem longe do divã do psicanalista.
Veja. Quem conhece minimamente os 12 Passos dos AA sabe que o programa não oferece garantias. Mas, a dada altura, por negligência ou mero infortúnio, Contardo diz o seguinte: "O homem frequentou os AA e deu certo". Ora, para nós, membros dos AA, ao contrário, o programa funciona, se muito, "só por hoje", nunca "dá certo", inexiste esse conceito. Eu posso voltar à ativa daqui a 20 minutos, corro esse risco, é da natureza da doença.
Um dos maiores predicados dos AA, inclusive, é esse. O de me colocar o tempo todo no presente para que eu consiga reduzir a angústia que a lembrança do passado me traz e diminuir a ansiedade que o peso do futuro pode vir a me causar.
Mas de que importa a filosofia dos AA? Bom mesmo é teorizar, não é para isso que serve psiquiatra? Calligaris menciona ainda que, aconselhado pelo seu grupo, o sujeito passou por uma "internação de um ano". De onde tirou um absurdo desses, só Deus sabe. Internação longa nos AA? Em 20 anos de Alcoólicos Anônimos nunca vi essa picaretagem. Aliás, é cada vez mais comum no país a prática criminosa da internação longa que isola o dependente da família e coloca o médico como intermediário todo-poderoso, sem que ninguém fiscalize.
Adoro ler o Contardo, ele me explica muitas coisas. Mas não me explica tudo. A psicanálise é aleijada da dimensão espiritual, um caminho muito indicado, senão imprescindível, para alguém como eu, que produz pouca endorfina, dopamina e outros opiatos naturais por conta dos anos que passei mamando destilados. Jung já advertia sobre isso a Bill e Bob, os dois sujeitos que fundaram os Alcoólicos Anônimos. Está documentado.
Fico me perguntando a quem Calligaris refere os casos mais graves de dependência. Não gosto nem de pensar na resposta. Em todo caso, uma atividade não interfere na outra, não é mesmo? O colunista é um, o médico é outro. Vamos deixar assim.
E deixar também um convite para que o amigo Contardo venha assistir a qualquer próxima edição que eu for dar da palestra "Do Fundo da Garrafa ao Domínio da Minha Vida", em que conto um pouco sobre meu trágico envolvimento com o álcool e como consegui sair desse inferno. Quem sabe ele não se anima a vir conhecer uma sala dos AA por dentro? Só por hoje. Funciona.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Uma história sustentável
domingo, 15 de julho de 2012
Globo: a biblioteca Jorge Amado
A bela Juliana Paes, representando Gabriela, personagem que mexe com a libido masculina
Quem nunca ouviu falar de Teresa Batista, Perpétua, Tieta, Rosa Palmeirão, Maria Machadão, Gabriela, nomes que, sem nenhuma coincidência, são femininos. A maioria dos brasileiros raramente lê um livro por ano, mas sabe bem quem são estes personagens, todos eles saídos do fantástico universo imaginativo do baiano Jorge Amado (1912-2001).
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Os idiotas
"As pessoas acham que escritores são pessoas iluminadas, muito inteligentes e que sabem muito sobre o mundo. Na verdade é o contrário: a maioria deles é ignorante e pouco imaginativa. Há uma porcentagem de gente muito idiota nesse meio." Enrique Vila-Matas, em entrevista à Folha de S. Paulo desta quinta-feira.
Agora, sim, me sinto incluído. Vou virar escritor.