W. B. Yeats (1865 - 1939), poeta irlandês laureado com o prêmio Nobel de 1923, é considerado difícil. Sua poesia não se abre à primeira vista. A sensação que tenho quando leio Yeats é que estou caminhando do lado de fora de um castelo antigo, dentro do qual sei que encontrarei objetos de valor inestimável.
Por outro lado (talvez o de fora), alguns poemas curtos do velho bardo são de uma beleza imediata e tocante. Eis o mistério. O que mais pode haver ali dentro que poderá nos embriagar? É o caso do poema abaixo.
A drinking song
Wine comes in at the mouth
And love comes in at the eye;
That’s all we shall know for truth
Before we grow old and die.
I lift the glass to my mouth
I look at you, and I sigh.
Este poema, por exemplo, é do livro The green helmet and other poems. Traduzi-lo, apesar do aparente acesso, seria uma profanação. Arrisco, no entanto, uma versão, sem observar de perto a metria, mas com certo ritmo, uma versão capenga e quase literal, só para que alguns leitores do Giba, aqueles que ainda estão aprendendo inglês, possam também apreciar essa beleza.
Se bem que, com essa tradução manca, eu posso prestar um desserviço e afastar de vez o leitor da poesia de Yeats. Mas vamos lá: (“O vinho entra pela boca/ E o amor entra pelo olhar/ É o que teremos da verdade/ Até a velhice e a morte chegar’/ Levanto o copo até a boca/ E suspiro a te mirar).
Levando em conta o poema original, claro, o que temos ali é o amor como embriaguez e como essência da verdade. O que interessa na vida, entre o envelhecimento e a morte, é só isso, o amor, que é o que nos tira da banalidade. O amor, como o vinho, traz a verdade.
Yeats foi além do velho ditado latino “In vino veritas” (a verdade está no vinho) e cravou: a verdade está no amor. Poderíamos vislumbrar ali a ideia de que só é possível amar se se estiver bêbado (o que seria uma pilhéria), mas amor e vinho estão claramente colocados como consumo para que se acesse a verdade. E isso dá pano pra manga.
Tanto é que em outro poema do mesmo livro ele diz: “Love is the crooked thing,/ There is nobody wise enough/ To find out all that is in it.” (O amor é algo evasivo, e ninguém é sábio o bastante para encontrar tudo que se encerra nele). Vamos a mais um poema curto de Yeats, também de The green helmet.
The coming of wisdom with time
Though leaves are many, the root is one;
Through all the lying days of my youth
I swayed my leaves and flowers in the sun;
Now I may wither into the truth.
Eis a árvore como metáfora da vida. Quando o tempo passa, e o vento leva todas as folhas e flores da juventude, já não resta mais nada, apenas o corpo murcho diante da verdade. Este poema está imediatamente após A drinking song. Neste caso, é bem possível que, mais uma vez, a verdade possa ser o amor.
Yeats não fala só de amor, mas quer sempre acessar a verdade por meio da poesia. Em seus poemas mais longos, esse acesso ganha complexidade maior. Não que seus poemas curtos não sejam profundos. O leitor há de convir que um homem feito Yeats não escreveria tão curtos versos para dizer só isso que postei aqui. Há mais, sem dúvida.
Seguem mais alguns poemas, sem tradução. Se o leitor as tiver, traduzidas em algum livro e quiser compartilhar, por favor, pode pôr no comentário, que eu trago para a página.
A friend’s illness
Sickness brought me this
Thought, in that scale of his:
Why should I be dismayed
Though flame had burned the whole
World, as it were a coal,
Now I have seen it weighed
Against a soul?
(Do livro The green helmet and other poems)
A poet to his beloved
I bring you with reverent hands
The books of my numberless dreams;
White woman that passion has worn
As the tide wears the dove-gray sands,
And with heart more old than the horn
That is brimmed from the pale fire of time:
White woman with numberless dreams
I bring you my passionate rhyme.
(Do livro The wind among the reeds)
Por outro lado (talvez o de fora), alguns poemas curtos do velho bardo são de uma beleza imediata e tocante. Eis o mistério. O que mais pode haver ali dentro que poderá nos embriagar? É o caso do poema abaixo.
A drinking song
Wine comes in at the mouth
And love comes in at the eye;
That’s all we shall know for truth
Before we grow old and die.
I lift the glass to my mouth
I look at you, and I sigh.
Este poema, por exemplo, é do livro The green helmet and other poems. Traduzi-lo, apesar do aparente acesso, seria uma profanação. Arrisco, no entanto, uma versão, sem observar de perto a metria, mas com certo ritmo, uma versão capenga e quase literal, só para que alguns leitores do Giba, aqueles que ainda estão aprendendo inglês, possam também apreciar essa beleza.
Se bem que, com essa tradução manca, eu posso prestar um desserviço e afastar de vez o leitor da poesia de Yeats. Mas vamos lá: (“O vinho entra pela boca/ E o amor entra pelo olhar/ É o que teremos da verdade/ Até a velhice e a morte chegar’/ Levanto o copo até a boca/ E suspiro a te mirar).
Levando em conta o poema original, claro, o que temos ali é o amor como embriaguez e como essência da verdade. O que interessa na vida, entre o envelhecimento e a morte, é só isso, o amor, que é o que nos tira da banalidade. O amor, como o vinho, traz a verdade.
Yeats foi além do velho ditado latino “In vino veritas” (a verdade está no vinho) e cravou: a verdade está no amor. Poderíamos vislumbrar ali a ideia de que só é possível amar se se estiver bêbado (o que seria uma pilhéria), mas amor e vinho estão claramente colocados como consumo para que se acesse a verdade. E isso dá pano pra manga.
Tanto é que em outro poema do mesmo livro ele diz: “Love is the crooked thing,/ There is nobody wise enough/ To find out all that is in it.” (O amor é algo evasivo, e ninguém é sábio o bastante para encontrar tudo que se encerra nele). Vamos a mais um poema curto de Yeats, também de The green helmet.
The coming of wisdom with time
Though leaves are many, the root is one;
Through all the lying days of my youth
I swayed my leaves and flowers in the sun;
Now I may wither into the truth.
Eis a árvore como metáfora da vida. Quando o tempo passa, e o vento leva todas as folhas e flores da juventude, já não resta mais nada, apenas o corpo murcho diante da verdade. Este poema está imediatamente após A drinking song. Neste caso, é bem possível que, mais uma vez, a verdade possa ser o amor.
Yeats não fala só de amor, mas quer sempre acessar a verdade por meio da poesia. Em seus poemas mais longos, esse acesso ganha complexidade maior. Não que seus poemas curtos não sejam profundos. O leitor há de convir que um homem feito Yeats não escreveria tão curtos versos para dizer só isso que postei aqui. Há mais, sem dúvida.
Seguem mais alguns poemas, sem tradução. Se o leitor as tiver, traduzidas em algum livro e quiser compartilhar, por favor, pode pôr no comentário, que eu trago para a página.
A friend’s illness
Sickness brought me this
Thought, in that scale of his:
Why should I be dismayed
Though flame had burned the whole
World, as it were a coal,
Now I have seen it weighed
Against a soul?
(Do livro The green helmet and other poems)
A poet to his beloved
I bring you with reverent hands
The books of my numberless dreams;
White woman that passion has worn
As the tide wears the dove-gray sands,
And with heart more old than the horn
That is brimmed from the pale fire of time:
White woman with numberless dreams
I bring you my passionate rhyme.
(Do livro The wind among the reeds)