quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Na dor do amor traduzida na voz, Adele é quase insuperável


Li a notícia de que 10 milhões de americanos se aboletaram na página de um site de venda de ingressos, para disputar vagas num show  de Adele nos EUA. O site caiu, saiu do ar com tanto peso virtual. Tudo isso porque a cantora lançou recentemente seu terceiro álbum, 25, que está bombando. Vendeu 3,3 milhões de cópias na primeira semana de lançamento.

Entendi o comportamento dos fãs americanos imediatamente. Sei por que isso acontece. Sei por que Adele é irresistível, por que consentimos seu chamado, sereia dos novos tempos, profetisa do novo blues. É porque existe amor e dor. Há um desencanto no seu canto difícil de se encontrar em outras vozes.

Sua voz chora dentro de nós também. O som de seu gemido dói de um modo profundo, e a gente sente a dor que ela canta, a gente sente vontade de colocá-la no colo e confortá-la. A gente a ama por isso.

Seus olhos tristes compõem o quadro da dor do amor. Todo mundo fala de amor, menos os trouxas. Todo mundo sente a correnteza do amor passar um dia ou outro, menos os insensíveis. Somos a corrente dessa eletricidade triste e densa impulsionada pela voz de Adele, e quando a vemos, entendemos mais claramente. Seus olhos são a expressão e a extensão da sua voz. É isso.

Seu canto é como um poesia profunda, condensação fabricada a partir da voz e do lirismo doído. Bastam meros cinco segundos para nos prender e nos levar juntos, sem salvação. Estaremos então presos na dor, embriagados na liquidez de seus olhos tristes, na tessitura de sua voz pedinte e potente, poderosamente solicitante de que fiquemos ali, de que a amemos, e a amamos.

Mesmo nas baladas mais ligeiras, como Set fire to the rain, dá pra sentir essa sensação de dor e de pedido de socorro de Adele. E essa marca é tão forte que já faz escola. Andra Day, cantando Rise up é fruto dessa escola. É claro que Adele não inventou a técnica de elevar a voz ao patamar da tristeza encorpada pela destreza vocal. Janis Joplin também fazia isso. Há outras, como Norah Jones e Katie Melua e a genial Billie Holliday. Mas neste quesito (dor do amor traduzida na voz), Adele é quase insuperável.

Adele cantando When we were young, do álbum 25


Andra Day com sua voz chorante e bela, cantando a emocionante canção Rise up

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Um comentário:

Gabriotti disse...

Gostei muito. Retratou muito bem o sentimento que nos envolve quando ouvimos Adele...