quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O BLOG DO PROFESSOR LISANDRO NOGUEIRA

Lisandro Nogueira: "criei coragem e lancei o blog"

O jornalista Eduardo Horácio, em seu Jornal X, indicou e este blog acatou incontinente: o blog sobre cinema do grande conhecedor do assunto Lisandro Nogueira, que foi meu professor de Teoria da Comunicação na Universidade Federal de Goiás. É mesmo de primeira qualidade (para acessar, clique aqui).

É de se deliciar com os textos, dele e de outros, como o de Inácio Araújo, o senhorzinho crítico de cinema da Folha de S. Paulo. Araújo comenta diariamente os filmes da TV, no caderno Ilustrada, com tiradas hilárias. Mas também escreve textos de crítica convencional do cinema exibido nas telonas. Seu texto no Blog do Lisandro fala de Linha de Passe (de Walter Salles Jr.) e Nossa vida não cabe num opala (de Reinaldo Pinheiro).

Já os textos de Lisandro Nogueira são curtos, ágeis e trazem um didatismo saudável, que nos empurram para mais próximo do cinema, nos deixam com mais vontade de ver filmes vários, unindo o prazer mundano do cinema comercial com a delícia da arte. Vale a pena.

Leia abaixo a justificativa do blog.

“Na tarde de segunda-feira (dia 15 de setembro), o professor Daniel Cristino, meu colega "bem jovem" na UFG, me perguntou os motivos por que eu não tinha um blog. Motivos? A falta: de confiança na informática blogueira; de tempo.

A idéia foi dele. No dia seguinte, eu já tinha o auxílio luxuoso da Cecília Paes, da Luísa e do meu sobrinho judeu, Pedro Nogueira Winitz. Sempre conto com a ajuda de outro sobrinho não-judeu: Marcelo Nogueira. Passada a desconfiança e a certeza de que eles continuariam por perto, criei coragem e lancei o blog.

O professor e jornalista Eduardo Horácio ficou horas na tarde/noite de terça-feira, acertando a parte gráfica e ensinando as postagens e outros procedimentos. Merci!!!”

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

QUASE-MEMÓRIA: o embrulho como metáfora

A memória é a caixa de ressonância da vida. Sem ela o sujeito vira espectro e corre o risco de flutuar como fantasma, perdido no tempo. É a memória que nos dá a noção de espaço e tempo pelo que se já experimentou.

É ela que nos permite recriar o passado para, de alguma forma, compensar o presente, bem como é a memória, aliada à imaginação, que permite um dos grandes trunfos do homem: a criação.

Foi assim, flertando com a vida e com a arte, que em 1995, o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony escreveu seu peculiar Quase-Memória: um quase-romance. O livro foi lançado há mais de dez anos, mas ainda pode ser uma novidade. Vale a pena ser lido.

A trama começa quando um porteiro do Hotel Novo Mundo, no Rio de Janeiro, entrega a Cony um envelope. O remetente era o pai do próprio Cony. O problema é que o velho já estava morto há muito tempo. A partir daí, a narrativa em primeira pessoa segue em flashbacks evocados pelo cheiro do pacote, além de outros elementos que reanimam a memória.

O narrador, que é o próprio jornalista, se tranca em seu escritório para avaliar o pacote. E cada vez que toca o tal embrulho, acende-lhe na memória uma luz de fatos do passado ligados a seu pai e a si próprio, como se algo ali estimulasse todos os sentidos, principalmente o tato, a visão e o olfato.

O autor faz do embrulho uma metáfora da memória de seu pai. No princípio, a história parece insípida e quem não tem fôlego não consegue acompanhá-la. Mas depois, pode-se sentir o imenso afeto, a admiração e a saudade do escritor por seu pai nesse livro que pode ser lido como uma espécie de homenagem, uma reparação romanceada.

É como se Cony quisesse reparar alguma indiferença afetiva, ou simplesmente imortalizar o velho pai. É quase memória porque não é sua história de fato, embora haja elementos reais, e é quase romance porque a técnica da narrativa tem uma elasticidade que trai o conceito de romance, ao mesmo tempo que lembra uma história romanceada.

A cada análise feita no embrulho, Cony tira uma casca da memória, como se sua rememoração fosse uma cebola, com várias camadas de lembranças. Além da similaridade aparente com o romance de Proust, Em Busca do Tempo Perdido, há aí uma semelhança entre o texto de Cony com o do escritor tcheko Franz Kafka, que escreveu uma carta ao pai enquanto o velho ainda estava vivo, mas não teve coragem de lhe entregar o escrito.

O pai de Kafka nunca a lera. Depois de mortos, pai e filho, a carta foi publicada e se tornou um grande sucesso literário. Já Cony, por razões diferentes, depois de seu pai morto, também resolveu registrar a admiração e o amor que sentia pelo pai, num quase-romance, ou uma carta indireta, como se fossem apenas reminiscências, escrita em primeira pessoa, mas se dirigindo a terceiros.

Quase-memória foi o décimo romance de Cony, publicado 22 anos após Pilatos, de 1973, com o qual o autor pretendia encerrar sua cota de romances. Mas, depois de Quase-memória já escreveu outros, muito ruins por sinal. Como romancista, deveria ter parado por ali mesmo.

domingo, 7 de setembro de 2008

DA VELHICE: um fio puxado do quadro de Van Gogh

“Velhinhas quedas e velhinhos quedos,
cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,
sepulcros vivos de senis segredos,
eternamente a caminhar sozinhos”

Violões que choram, poema de Cruz e Sousa

“A gente leva a vida inteira para entender o que realmente importa e, então, já não está mais lá.”
O teatro de Sabbath, de Philip Roth


"Surpreende-te que os outros passem ao teu lado e não saibam, quando passas ao lado de tantos e não sabes, não te interessa, qual é o sofrimento deles, seu oculto câncer?"
Cesare Pavese, in: O ofício de viver


Velho triste (No solado da eternidade), pintado por Vincent van Gogh em 1890, ano da morte do pintor holandês

A velhice me assusta não pelas ameaças que traz consigo em doenças, mas pela ferocidade da impotência diante do outro. O outro sempre mais forte. O outro de olhar feroz atropelando, passando por cima como quem amassa a massa de pastel com rolo compressor.

Velhinhos chorando me arrancam a alma. Um velho chorando na calçada, ou no solado da porta. Sabe-se lá se é fome, se é medo de viver, se é saudade, abandono, solidão, dor.

Dor da alma, do desprezo, da perda de si e dos outros, no solado da eternidade, como no quadro de Van Gogh (1853 – 1890), ao pé da porta que se abre para o fim.

Van Gogh morreu aos 37 anos, suicidou-se, mas sabia o que era ser velho na quarta década de vida. Quando se chora na velhice, há muitas razões. Quem sabe não é o peso da memória.

Uma velhinha em lágrimas não me passa, jamais passará, a imagem da mulher que foi, vigorosa ou eternamente debilitada, dócil ou megera. Uma velhinha chorando é uma velhinha chorando. Pode ter sido a pior das madrastas. Sem conhecimento prévio, não há julgamento.

Um velhinho fraquinho, raquítico homem, pode ter sido uma fera no passado, que sempre volta à tona. Pode ter batido na mulher, deixado o filho com fome, surrado a mãe ou o pai, quando era jovem e forte.

Mesmo assim, velhinhos chorando me dilaceram a alma, porque serei eu amanhã, porque a velhice me sopra a fronte sempre que me sinto forte, como vento e tempo, como vida e morte.

Não é de bom tom sair por aí batendo em velhinhos indefesos, dizem os homens que discernem as coisas. E eu me pergunto: Não é um tapa na cara, um soco no estômago a fila de hospital, tripa quilométrica de INSS? Não é humilhação demais para um homem de idade, depois de ter trabalhado tanto? Vá lá, mesmo que não tenha trabalhado tanto, não faz sentido espancar a velhice.

Aquilo que se vê nas ruas, ou no lado absconso da civilidade, não é literatura. Não é arte. Não há dignidade no semblante triste de um velhinho chorando. Não é verossimilhante, nem vale o trocadilho (velhossimilhante). Não é aquilo que poderia ter sido. É o que não poderia ser.

É verdade que muitas pessoas envelhecem bem e morrem otimamente. Nunca passam por humilhação nenhuma. Nunca choram de tristeza, nem de dores, nem de vícios, nem sentem a solidão carcomer-lhe a alma. Mas outras não.

Por outro lado, há pessoas que sofreram e choraram, que tiveram uma infância infeliz, mas recuperaram a dignidade a laço. Há pessoas que conheceram o inferno, que se perderam e depois se reencontraram. Mas outras não.

A velhice me assusta pelo que tem de horror à morte, pelo que tem de apagamento, desvanecimento, desaparecimento. A entrega dos pontos. Só a literatura permanece. Só a arte resiste.

Viver é aprender a envelhecer, eu sei. O mais difícil, o mais vagaroso, o mais sublime – e ao mesmo tempo o mais terreno – dos aprendizados.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PARIS REVIEW ENTREVISTA UMBERTO ECO: o homem que inventou Dan Brown

Eco: Numa determinada idade da gente, entre 15 e 16 anos, a poesia é como masturbação

Para ler o restante desta entrevista, clique no link ‘compre este artigo’. É assim que termina o trecho livre da entrevista que Umberco Eco (1932 - ) concedeu à revista Paris Review desta temporada.

Mas o pedacinho disponível veio parar neste humilde blog, que de tão humilde poucos conhecem e por isso mesmo imagino que ninguém virá reclamar direitos autorais.

Nesta entrevista, Eco ecoa. Péssimo trocadilho. Em todo caso, podemos ler declarações maravilhosas, que chegam a ser lições valiosas sobre literatura, linguagem, memória e vida.

Nada muito diferente do que já falou em outras entrevistas. Mas é sempre bom relê-las. Fala de seu gosto pelo trompete e da compra que fez de um, no valor de dois mil dólares. Fala da relação entre memória e literatura. Segundo ele, “todo homem é obcecado pelas memórias de sua própria juventude.”

Parênteses para dizer que minha admiração por Eco está diretamente ligada à sua erudição e as sacadas geniais sobre literatura. Sem me esquecer de Como se faz uma tese, Semiótica e filosofia da linguagem, livro esgotado há anos no Brasil, Viagem na irrealidade cotidiana e um delicioso, maluco e difícil tratado sobre as línguas artificiais, A busca da língua perfeita.

Voltando à entrevista, no final, ele diz: “Suspeito que não haja um acadêmico sério que não goste de ver televisão. Mas sou o único que confessa.” Aqui no Brasil, temos Renato Janine Ribeiro que também gosta e confessa.

E no finalzinho, mas no finalzinho mesmo, ele diz que leu O código Da Vinci e que Dan Brown é um personagem de O pêndulo de Foucault. "Eu inventei Dan Brown”, provoca.

Vamos à entrevista.

Entrevistador:
A Segunda Guerra Mundial teve algum impacto em sua decisão de se tornar escritor?

Eco:
Não. Não há nenhuma ligação imediata. Comecei a escrever antes da guerra. Lia e fazia história em quadrinhos como todo adolescente, e também lia muitos romances de fantasia ambientados na Malásia e na África Central. Eu era um perfeccionista, queria fazer parecer que minhas histórias haviam sido impressas, e por isso escrevia tudo em letra de forma, desenhava as páginas, fazia o índice, ilustrava.

Isso era tão exaustivo que eu nunca terminava nenhuma história. Nessa época, fui um grande escritor de obras-primas inacabadas. Mas é óbvio que quando comecei a escrever romances, minhas lembranças da guerra exerceram seu papel. Todo homem é obcecado pelas memórias de sua própria juventude.

Entrevistador:
O senhor chegou a mostrar esses primeiros livros a alguém?

Eco:
É possível que meus pais vissem o que eu fazia, mas acho que ninguém mais viu. Era um vício solitário.

Entrevistador:
O senhor disse uma vez que nesse mesmo período tentou escrever poesia. Em um ensaio sobre a arte de escrever, o senhor também disse: “Minha poesia tinha a mesma função e a mesma estrutura das espinhas adolescentes.”

Eco:
Acho que numa determinada idade da gente, entre 15 e 16 anos, a poesia é como masturbação. Mais tarde, os bons poetas queimam suas poesias imaturas, enquanto os maus poetas as publicam. Ainda bem que desisti logo de escrever poesia.

Entrevistador:
Quem o encorajou a fazer literatura?

Eco:
Minha avó materna, que era uma leitora compulsiva. Ela só tinha a quinta série do ensino fundamental, mas era cadastrada na biblioteca municipal e toda semana trazia para mim dois ou três livros. Podia ser uma literatura barata ou um Balzac. Para ela, não havia muita diferença. Todos eram fascinantes.

Por outro lado, minha mãe tinha estudado para ser datilógrafa. Começou a estudar francês e alemão, e embora tenha lido muito em sua juventude, sucumbiu a uma espécie de preguiça quando envelheceu, lendo apenas romances de amor e revistas femininas.

Não cheguei a ler o que minha mãe lia. Mas ela falava graciosamente, com um bom estilo italiano, e escrevia tão deliciosamente que seus amigos lhe pediam para escrever cartas.

Ela tinha uma grande sensibilidade para línguas, mesmo tendo parado de estudar muito cedo. Acho que herdei dela um gosto genuíno pela escrita e meus primeiros elementos de estilo.

Entrevistador:
Até que ponto seus romances são autobiográficos?

Eco:
De certa forma, acho que todo romance é autobiográfico. Quando você imagina um personagem, você empresta a ele um pouco de suas memórias pessoais. Você dá parte de você mesmo para o personagem número 1 e outra parte para o personagem número 2. Neste sentido, não estou escrevendo nenhum tipo de autobiografia, mas os romances são minha autobiografia. Há uma diferença.

Entrevistador:
Há imagens que o senhor transfere diretamente? Estou pensando em Belbo tocando trompete no cemitério em O pêndulo de Foucault.

Eco:
Esta cena é absolutamente autobiográfica. Não sou Belbo, mas isso aconteceu comigo, e foi tão importante que agora vou revelar uma coisa que nunca disse antes. Três meses atrás, eu comprei um trompete de alta qualidade por cerca de dois mil dólares. Para tocar trompete, você tem de treinar seus lábios por um longo tempo. Quando eu tinha doze ou treze anos, eu era um bom trompetista, mas perdi a habilidade e hoje toco muito mal. Mesmo assim toco todo dia. A razão de eu ter comprado o trompete é que eu queria voltar à minha infância. Para mim, o trompete é a evidência do tipo de jovem que fui. Não sinto nada pelo violino, mas quando olho para o trompete sinto um mundo inteiro correndo em minhas veias.

Entrevistador:
O senhor achou que podia tocar a melodia de sua infância?

Eco:
Quanto mais eu toco, mais vivas as melodias me vêm à memória. Certamente há passagens que são altas demais, difíceis demais. Eu as repito várias vezes, tento, mas sei que meus lábios simplesmente não reagem do jeito certo.

Entrevistador:
A mesma coisa acontece com sua memória?

Eco:
É estranho. Quanto mais velho fico, mais lembro. Vou dar um exemplo: meu dialeto nativo era o alessandrino, um piemontês bastardo com elementos de lombardo, emiliano e genovês. Não falava esse dialeto porque minha família veio da pequena burguesia, e meu pai achava que minha irmã e eu deveríamos falar apenas italiano. Embora meus pais falassem o dialeto entre eles.

Eu entendia tudo perfeitamente, mas não conseguia falar. Meio século depois, assim de repente, do cerne de minhas entranhas ou do meu inconsciente, o dialeto surgiu, e quando encontrava meus velhos amigos da Alessandria [Alexandria], eu conseguia falar o dialeto com eles.

Então, conforme o tempo passou em minha vida, eu fiquei apto não só para recuperar coisas que tinha esquecido, mas coisas que eu acreditava que nunca tinha aprendido.

Entrevistador:
Por que o senhor decidiu estudar estética medieval?

Eco:
Tive uma educação católica, e durante meus anos de faculdade liderei um dos movimentos estudantis católicos. Eu era fascinado pelo pensamento escolástico medieval e pelos primórdios da teologia cristã. Comecei uma tese sobre a estética de Tomás de Aquino, mas, antes que eu terminasse, minha fé sofreu um baque.

Era uma relação política muito complicada. Eu pertencia ao lado mais progressista do movimento estudantil. Isso significava que eu era interessado nos problemas sociais, na justiça social. A ala de direita era protegida pelo Papa Pio XII. Um dia, minha ala foi acusada de heresia e comunismo. Até mesmo o jornal oficial do Vaticano nos atacou.

Esse fato desencadeou uma revisão filosófica de minha fé. Mas continuei estudando a Idade Média e a filosofia medieval com grande respeito, sem citar meu amado Aquino.

Entrevistador:
No Pós-escrito ao Nome da rosa o senhor escreveu: “Vejo a Idade Média por todos os lugares, transparentemente superpondo minhas preocupações diárias, que não parecem medievais, embora sejam.” Como são suas preocupações diárias medievais?

Eco:
Por toda a minha vida, tive inúmeras experiências de total imersão na Idade Média. Por exemplo, ao preparar minha tese, fiz duas viagens de um mês a Paris, para pesquisar na Bibliothèque Nationale. Decidi então que durante esses dois meses de pesquisa eu viveria apenas na Idade Média. Se você reduzir o mapa de Paris, selecionando apenas algumas ruas, poderá realmente viver na Idade Média.

Você então começa a pensar e sentir como um homem medieval. Eu me lembro, por exemplo, que minha mulher, que tem um dedo verde e sabe os nomes de todas as ervas e flores do mundo, sempre me repreendia antes de O nome da rosa por eu não observar a natureza.

Uma vez, no interior do país, fizemos uma fogueira e ela disse “repare como as fagulhas sobem voando entre as árvores.” Claro que não prestei atenção. Mais tarde, quando ela leu o último capítulo de O nome da rosa, no qual descrevo uma fogueira similar, ela disse: “Então, você olhou para as fagulhas!” E eu disse “não, mas sei como um monge medieval olharia para elas.”

Entrevistador:
O senhor acha que teria realmente gostado de viver na Idade Média?

Eco:
Bem, se tivesse gostado, não chegaria à idade que tenho hoje. Mas suspeito que se tivesse vivido na Idade Média, meus sentimentos sobre o período seriam dramaticamente diferentes. Prefiro apenas imaginá-lo.

Entrevistador:
O senhor continua obcecado por televisão?

Eco:
Suspeito que não haja um só acadêmico sério que não goste de ver televisão. Mas sou o único que confessa. E então tento usar isso como material de trabalho. Mas não sou um glutão que devora tudo. Não gosto de ver qualquer coisa. Gosto das séries dramáticas e detesto os shows trashes.

Entrevistador:
Há algum seriado que o senhor particularmente aprecia?

Eco:
Os seriados policiais. Starsky & Hutch – Justiça em Dobro, por exemplo.

Entrevistador:
Este seriado não existe mais. É da década de 70.

Eco:
Eu sei. Mas me disseram que a série completa está disponível em DVD. Estou pensando em comprá-la. Outros seriados de que gosto são CSI, Miami Vice, Plantão Médico e, o melhor de todos, Columbo.

Entrevistador:
O senhor leu O código Da Vinci?

Eco:
Sim, sou culpado disso também.

Entrevistador:
Esse romance parece mais um desdobramento de O pêndulo de Foucault.

Eco:
O autor, Dan Brown, é um personagem de O pêndulo de Foucault! Eu o inventei. Ele compartilha os fascínios de meus personagens – a conspiração mundial dos Rosa Cruz, dos Maçons, dos Jesuítas. O papel dos cavaleiros templários. O segredo hermético. O princípio segundo o qual tudo se conecta. Minha suspeita é de que Dan Brown talvez não seja real.