O grande contista mineiro, Luiz Vilela, lançou agora em 2008 um extraordinário livro de contos eróticos. O autor sempre trabalhou a temática do erotismo em sua obra, mas em Contos Eróticos (Editora Leitura, 143 p., compre aqui) concentram-se 20 histórias de puro deleite, elogiando Eros.
Na literatura, a forma de narrar ou expor um conteúdo também se coloca como erotismo. O texto literário é uma insinuação, cujo corpo se apresenta na obliqüidade e na ambigüidade. E neste caso, por se tratar de contos eróticos, eles vêm como strippers.
A maestria de Vilela em contar um conto, já conhecida de todos, autor premiado, está presente neste segmento, que é visto sempre de esguelha, justamente por ser difícil tratá-lo sem cair na vulgaridade.
Mas aqui, o que se vê é uma literatura de fino trato, cuja prosa se revela aos poucos, se insinuando, até que se mostra por completo, pondo-se nua diante do leitor, sem ser explícita, sem ser vulgar, repito. No despir do texto, há sempre uma surpresa, um espanto.
Os contos desnudam vários aspectos da sexualidade, como o desejo, o íntimo da personagem numa sondagem libidinosa. Às vezes, a narrativa revela situações de sensualidade. Às vezes, é o diálogo que cria uma tensão voluptuosa.
Chamo a atenção para duas variações e uma fixação. A ambientação dos contos varia, situando-se em escolas (a maioria deles), seio familiar, bar, igreja, entre outros espaços. Essas explorações trazem à tona justamente os lugares usuais de onde os desejos são despertados.
Outra variação é a da temática: o homoerotismo, feminino e masculino, a puberdade, o desejo reprimido, a brutalidade do desejo, a morte, o voyeurismo e os delicados desvios de conduta, como a zoofilia erótica, praticada por adolescentes masculinos em sua iniciação sexual, comportamento típico dos garotos da zona rural (tema tratado em apenas um conto, que prima pela comicidade do desfecho).
Já a fixação é absolutamente certeira do ponto de vista conceitual. Trata-se da presença da criança e do adolescente na maioria dos contos.
É bom lembrar que o autor não explora a pornografia, nem advoga pela pedofilia. O fato é que o despertar do desejo, a curiosidade – a introdução à sexualidade – está nessa fase da vida, o que, muitas vezes, desperta o desejo em si e nos outros, tanto no que diz respeito aos desvios quanto no tocante ao processo de amadurecimento.
O erotismo provoca o desejo, trabalha o desejo, evoca o desejo. A palavra vem de Eros, o deus do amor, um deus-menino que traz em sua aljava um turbilhão de flechas que ele usa em suas peraltices para acertar mortais e fazê-los sofrer a febre do amor.
O conceito do amor em Eros é marcado pela irresponsabilidade e também pela jovialidade, pela imaturidade, portanto. É onde o desejo pulula e a sensualidade está sempre à flor da pele.
Em Contos Eróticos, Luiz Vilela soube trabalhar bem tanto as sensações táteis do desejo quanto suas insinuações, o desejo reprimido pelas convenções sociais, que, diga-se de passagem, são necessárias, para que não mergulhemos, nem afoguemos os outros, na animalidade egoísta do sexo absoluto.
Trechos:
Triste
“Aconteceu num segundo: ela debruçou-se sobre a carteira, ele olhou para trás – e então passou a mão nos seios dela, que recuou bruscamente, gritando ‘descarado! descarado!’
Não sabia direito o que acontecera depois; sentira o rosto pegando fogo, como no dia em que bebera escondido a pinga do avô, tudo foi ficando cinzento e sumindo: a voz de Dona Yara sumiu, a carteira sumiu, a classe sumiu.”
...
A moça
“Desceu o zíper atrás, puxou as mangas do vestido e observou-o deslizar suavemente por sobre os seios; depois acabou de empurrá-lo até o chão. Observou-se ainda um instante, as tetas aparecendo fora do minúsculo soutien. Tirou-o, e o seios ficaram livres e soltos, em toda a sua exuberância e beleza. Com mais um gesto, ela acabou de ficar nua.
E então, no espelho, naquele corpo de mulher, jovem e belo, duas mãos pousaram sobre os seios, envolvendo-os acariciantes – mas não eram as suas mãos, eram as mãos de outra mulher, mãos macias e quentes e que sabiam acariciar como nenhumas outras. E agora desciam pelas suas ancas, rodeavam as coxas e iam lentamente subindo até a carne ardente e úmida. E já não eram somente as mãos, era também a boca maravilhosa, que percorria todo o seu corpo numa alucinante viagem.
O marido saiu do banheiro. Ela estava de penhoar, debruçada à janela, olhando a cidade iluminada, e então voltou-se:
― Bem, eu estive pensando ... Vamos ficar no Rio mesmo.”
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Título: Contos eróticos
Autor: Luiz Vilela
Editora: Leitura
Preço: R$ 24,90 (compre)
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5 comentários:
achei que você estava em algum país na áfrica
Você sempre enigmática, nénão, Laura (rs).
nada disso, pensei que tinha sumido. e a literatura pornográfica do kafka, já encomendou? beijos
Eu li no caderno Mais sobre a coleção de revistas de safadeza dele (rs). Bem que eu reparava algumas insinuações salaud em O Processo (rs).
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