Rumo à Estação Finlândia, de
Edmundo Wilson, narra a aventura humana pela concretização de uma sociedade
mais justa. No rastro dos grandes pensadores sociais, o livro é uma espécie de
crônica de um tempo memorável, fazendo ressurgir no papel nomes caros à criação
do socialismo, como Babeuf, Saint-Simon, Fourier, Robert Owen, além de Karl
Marx e Friedrich Engels, os fundadores do marxismo.
Estação
Finlândia é uma referência ao local para onde foi o líder marxista russo Vladimir
Lenin, saindo de Londres, seu exílio, antes de seguir viagem para assumir o
comando do governo revolucionário, que viria a se tornar um dos maiores
totalitarismos da história com Stálin, prova de que na teoria a prática às
vezes é outra.
O
livro de Wilson não desbrava o totalitarismo russo. Finaliza com a chegada de
Lenin a Moscou em 16 de abril de 1917. O filé da narrativa é mesmo o retrato
daqueles espíritos pregressos, fora do comum com suas qualidades e defeitos. E
Karl Marx foi o mais brilhante e fecundo deles.
Marx
abdica da própria carreira profissional, e até do bem-estar da família, para
lutar por amplos direitos em favor do proletariado. Por causa disso, ele se
afunda na pobreza também. Sua penúria é comovente à medida que se imagina um homem
dedicando seus melhores dias à causa dos excluídos, e por isso, de igual modo, se
excluindo.
O
trágico dessa história é que esses excluídos contemporâneos de Marx podem ter passado
a vida toda sem saber do empenho do autor de O Capital. Por outro lado,
havia também certa irascibilidade por parte dele em relação ao proletariado,
além de demonstrar arrogância e pendores racistas contra seus críticos e
desafetos.
Nasce
o socialismo
Os
novos pensadores sociais argumentavam que a sociedade era uma criação humana e
que, portanto, podia-se reorganizá-la de acordo com a justiça e a igualdade de
direitos entre os homens, sem a exploração de uns sobre os outros, como sempre
havia ocorrido (e aumentado na Revolução Industrial).
E
assim surgiu o socialismo. No seio dele, Karl Marx criou o marxismo com o
auxílio do milionário e pensador social Friedrich Engels. É gostoso ler Rumo
à Estação Finlândia pelo brilhantismo da narrativa de Edmund Wilson, pelas
histórias de heroísmo fracassado dos grandes pensadores, inclusive o próprio Marx.
Segundo
Wilson, Marx errou feio em duas premissas básicas. Primeiro imaginava que a
Inglaterra industrializada abriria um abismo cada vez maior entre operários e
patrões, e isso causaria a revolução comunista. Houve o abismo, mas “a
progressiva degradação da classe operária teve simplesmente o efeito de
atrofiar os trabalhadores fisicamente, e pouco a pouco extinguir-lhes o
espírito.”
O
outro equívoco, segundo Wilson, foi o de achar que os trabalhadores, pobres e
analfabetos, com um mínimo de instrução se conscientizariam e se revoltariam
com a exploração a que eram submetidos. “Mas agora sabemos que, quase
invariavelmente, quando o povo pobre e analfabeto de uma sociedade industrial
moderna aprende a dominar as técnicas mais avançadas e melhora seu padrão de
vida tende a exibir ambições e gostos burgueses.”
Em
todo caso, o marxismo ainda serve como valiosa interpretação do modo como um grupo
poderoso pode explorar a massa de infelizes que não tem para onde correr, a não
ser para a própria força social que raramente percebe que têm.
O que
faz a diferença no livro de Wilson é sua sensibilidade aberta ao outro,
sobretudo ao outro diferente de sua realidade pequeno-burguesa, o outro que
soube construir pontes resistentes por meio das quais um séquito de explorados
se reuniu com a intenção de mudar o mundo (história das ideias). Tudo que eles
falaram foi em nome do povo, em defesa de um novo tipo de relação social, na
qual não houvesse mais exploração.
Neste
sentido, Rumo à Estação Finlândia é um livro que retrata idealistas
sociais, homens sensíveis ao sofrimento alheio, que (parafraseando Graco
Babeuf) pensavam em maneiras de proporcionar à espécie humana a igualdade e
retirar das costas dos mais vulneráveis o peso da exploração.
Wilson
identifica a história moderna como um trem com muitos vagões cuja locomotiva
são Marx e Engels. Esses caras mudaram o rumo dos acontecimentos, fizeram a
humanidade seguir numa outra bitola (e leva-se em conta aqui o trocadilho
também).
(Leia
também Rumo à Estação Finanças e Trem da história)
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