quinta-feira, 20 de junho de 2013

Indignação não é moeda sem valor, não mais



Indignação parecia ser moeda sem valor no Brasil. Os gestores e legisladores do Estado, eleitos para fazer a cidadania funcionar, há muito tempo vinham ignorando os anseios da maioria. Até que um grupo de jovens corajosos e indignados conseguiram despertar a vontade de lutar das pessoas. Com esse sem número de protestos, a cidadania sai revigorada. À sociedade incorpora um tipo novo de sentimento.

Não sei até quando, mas neste momento, a multidão indo às ruas é uma espécie de ícone da esperança, além de um luta concreta e legítima contra o descaso dos governantes, que, ao lado da maioria dos gestores públicos, nunca estão nem aí para os cidadãos, nunca ouvem ninguém, depois de serem eleitos e se esconderem atrás de planilhas e discursos cínicos.

Se os protestos começaram para forçar os governos a baixarem as tarifas do transporte coletivo, isso foi apenas o pontapé inicial de uma série de reivindicações. Primeiro porque a diminuição da tarifa não alivia os usuários da desgraça que é pegar ônibus todos os dias com a qualidade abaixo do sofrível que o transporte coletivo tem em todas as cidades do país que fazem uso desse serviço.

Depois, não há em nenhum setor das coisas do Estado alguma coisa que funcione de forma pelo menos satisfatória. As pessoas foram às ruas e cresceram em número, intensidade e insistência, enfrentando a brutalidade da polícia, em vários momentos, porque chegou-se ao limite dessa indignação.

A polícia, incompetente sempre, do ponto de vista de lidar com o cidadão, só se eleva como eficaz quando o assunto é espancar os indefesos (sem fazer distinção entre cidadãos de bem e pequenos párias da sociedade, bandidinhos pés de chinelo). De vez em quando prende bandidões, mas estes ganham o direito de não sofrer violência policial quando são rendidos.

O atendimento nos hospitais públicos é um display do horror e da negligência. Todo mundo, sem exceção, que depende do Estado para se tratar, e um dia teve de recorrer aos médicos e sua arrogância (nem todos fazem parte desse círculo) ou à estrutura falida do serviço, já sofreu algum tipo de descaso, ou não foi atendido – porque o médico saiu mais cedo, não veio, viajou, entrou em férias – ou ficou esperando cinco horas porque a fila era enorme, foi medicado sem resultado de exames, sem diagnóstico, sem uma conversa prévia, apenas perguntas monossilábicas diante de um paciente indefeso.

Na Justiça, é a mesma coisa. Na Previdência Social, na educação jogada às moscas, idem. Mas nada acirra a indignação mais do que o cinismo dos governantes, eleitos para resolver os problemas e nada fazem, deixam (e participam) a corrupção correr solta nos trâmites do Estado. Não fazem nada porque são incompetentes? Pedem pra sair. Não fazem porque não querem? Não deveriam estar lá, e aí, precisamos repensar nossa maneira de avaliar os candidatos (dessa geração que está no poder hoje, de cada 100, pelo menos 95 não merecem estar lá, contando os executivos e os legislativos).

Não fazem nada porque a estrutura social é complexa e a democracia exige um sem número de ações e negociações com grupos de pressão, com grupos de interesse que têm muito dinheiro e manipula o sistema? Incompetência do mesmo modo, porque venderam ao eleitor, à sociedade, uma capacidade que não tinham.

O Leituras do Giba é um exercício de análise literária, não é um blog político, mas também não se pretende alienado. Este autor está ligado nos assuntos políticos, nas demandas sociais. E por isso mesmo sabe que é bom distinguirmos Nação de Estado e de Governo.

A Nação somos nós, o conjunto de valores que trazemos na nossa cultura, transportada pela língua, somos o que pensamos, fazemos, a maneira como agimos e lidamos com nossos problemas coletivos. O Estado é o conjunto de leis que asseguram a existência dessa Nação no espaço, no território, formando o país, dentro do qual há a sociedade. O Governo é a composição transitória escolhida pela maioria para gerir os negócios do Estado. O Governo deve ser cobrado sempre, porque é por meio dele que o Estado pode melhorar, tornar-se mais justo, e a sociedade progredir.

Apoio as manifestações no país inteiro porque também sou cidadão. Também sofro o descaso nos serviços públicos, as ações de governantes que acham que depois do dia do voto não há mais nada. Há, sim. Há o anseio dos cidadãos e precisa ser atendido.

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