quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A arte de argumentar

Cena do filme O grande desafio, dirigido por Denzel Washington (ilustrativo)

Argumentar é brigar, debater, mas tendo como arma as palavras certas. O confronto pode ser entre dois interlocutores, ou entre dois grupos de pessoas de ideologias diferentes, duas nações, enfim. Argumentar requer preparo verbal, uma ida à escola, uma capacidade de lidar com a cultura escrita imbuída na arte de convencer, utilizando-se dos instrumentos da razão, levando em conta o público que se quer atingir.

O saber que nos prepara para isso é a retórica, que nos dá uma “capacidade de usar a linguagem para criar expressões mais bem feitas e tecnicamente elaboradas”, segundo o mestre da nova retórica, Chaim Perelman. Há vários livros que abordam a questão. Logo, a cultura escrita é fundamental nesse esteio.

Desde os gregos até Nietzsche, tivemos grandes mestres. Há os mestres da retórica conhecidos e os estudiosos do assunto que também escreveram livros, mas que ficaram obscuros, amados e buscados apenas por outros estudiosos, escritores profissionais, advogados, juristas, filósofos, como Petrus Ramus.

Já no submundo do debate, há duas categorias de gente. Isso quem nos ensina é Schopenhauer. A primeira, que ainda mantém certo nível de decência intelectual, é a que se exime na arte de vencer um debate sem precisar ter razão, fugindo do assunto proposto e, sorrateiramente, jogando no tabuleiro novos elementos para criar um ambiente dentro do qual o debatedor se move melhor. Existe uma técnica argumentativa para isso chamada erística.

A segunda estirpe é vil, é de um tipo que sabe usar as palavras, não para argumentar coisa nenhuma, mas para cuspir verbos malditos. Há quem seja bom nisso. Schopenhauer conhecia bem esses truques. Mestre da argumentação, ele sabia passear pela elegância e pela arrogância do nada dizer, e deixou anotações que depois virariam livro que ensina como ofender quando não se tem argumentos.

“Quando perceber que o adversário é superior e que você acabará por perder a razão, torne-se ofensivo, ultrajante, grosseiro, isto é, passe do objeto da contestação (dado que aí a partida está perdida) ao contendor e ataque de algum modo sua pessoa”, dizia Schopenhauer.

Quando não se sabe argumentar, o recurso é lançar ofensas no vazio, o vazio que sempre se instala entre as palavras e as coisas. Esse grupo de falsos argumentadores tem o pior tipo de espírito, porque parte para a grosseria e a violência logo que se vê sem os elementos de que necessitaria para debater.

Desvalido da capacidade racional, o falso argumentador comporta-se como uma espécie de jagunço verbal, disparando insultos em forma de debate, porque, no período em que frequentou a escola da argumentação (se é que frequentou) levou bomba. Para isso não existe técnica argumentativa. É o momento em que ele se afunda na própria ignorância (significando aqui falta de conhecimento e grosseria pura).


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