Como
diz Bloom, vivemos em uma era em que a sensação (vídeos, imagens, sabores) nega
o pensamento. Um cara percebeu isso na década de 1980, Patrick Süskind, e
escreveu O perfume, delicioso e original best-seller em torno de um sujeito
completamente marginalizado e parvo (estúpido, não sabia pensar, não sabia usar
as palavras na consciência), largado pela mãe instante após ser parido, e criado
como um animal caseiro por um bruto qualquer, na Paris do século XVIII.
Jean-Baptiste
Grenouille, o personagem de Patrick Süskind, não exalava cheiro nenhum. Desse modo,
nenhum tipo de animal o estranhava, a não ser os homens, que julgam pela
aparência antes de julgar por qualquer outra coisa. Ele não exalava cheiro, mas
era capaz de sentir o cheiro de qualquer coisa e diferenciar suas nuanças. Cada
coisa, cada ser (mineral, vegetal e animal) tem um cheiro geral e tonalidades
odorais que os particularizam.
Grenouille
foi ignorado pela capacidade do pensamento imediato, nasceu náfego desse
potencial humano, e por isso jamais conseguiu convocar as palavras para
apoderar-se do pensamento mediato e racional. Mas a natureza é incrível. E Grenouille,
por mais diferente que seja de sua espécie, também faz parte da natureza. Começou
a sentir o poder da consciência ao organizar o cheiro, e o mundo tornou-se uma
realidade incrível para ele.
Descobriu
que podia valorar o mundo pelo aroma. Jurou para si mesmo que havia encontrado
o segredo da beleza absoluta, da bondade verdadeira, sabia que se tratava de um
fenômeno que tinha um perfume original e poderoso, do qual só ele conhecia a
fórmula. Já aqui Grenouille sentia-se um Messias das essências.
O
filme é muito fraco para explicar a ideia original de Süskind por trás do
romance que ele escreveu. Mais fica aqui um aperitivo do livro:
“Há
sempre um poder de convicção no perfume que é mais forte do que as palavras, do
que o olhar, sentimento e vontade. O poder de convicção do aroma não pode ser
descartado, entra dentro de nós como o ar em nossos pulmões, nos ocupa
completamente, não há antídoto contra ele.”
E
o despertar da consciência de Grenouille: “Quem dominasse os odores, dominaria
o coração das pessoas.”
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário