Os
negros americanos se intelectualizaram rápido. Em 1867, dois anos após a
abolição da escravatura, lá, já tinham fundado a primeira universidade exclusivamente
para negros, em Washington, a Howard University. Dos EUA vêm grandes nomes que
nos ensinam muito sobre valorização e consciência negra, como o antropólogo W.
E. B. Du Bois (1868-1963), primeiro negro a se tornar doutor pela Harvard,
autor de livros importantes como As
Almas da Gente Negra. Marcus Garvey, o jamaicano que fez história nos EUA,
também é outro gigante dessa história toda.
Depois
disso, e do jazz, e do blues, e da literatura (Elisson, Morrison, Walker), and
so on, vieram nomes como Martin Luther King e Malcolm X. Em seguida, após a
turbulência e as lutas dos anos 50, 60 e 70, vieram Forest Whitaker e Denzel
Washington, Oprah Winfrey, e por fim Barack Obama. O diretor e roteirista negro
Steve McQueen e seu filme 12 Anos de Escravidão,
que ganhou o Oscar de melhor filme, é mais um exemplo de como os negros
americanos conseguiram se organizar e agir (falo do diretor, não da história de
Solomon Northup, que também é exemplo de negros intelectualizados no século XIX,
que deu origem ao filme, roteirizado por John Ridley.
Agora,
esta história (de Solomon) contada por McQueen no cinema nos faz lembrar do
quanto estamos longe de uma classe média negra no Brasil, consumidora de
símbolos da cultura negra de forma consciente, de grupos maiores de negros
intelectuais que possam contar nossa história sem rancor, mas com arte e
verdade.
Há
muitos entre nós em todos os tempos, como Luiz Gama (1830 – 1882, cuja história
é sensacional, também foi vendido por um branco, que era seu próprio pai, e
viveu como escravo por uns bons anos, depois estudou Direito, chegou frequentar a Faculdade do Largo do São
Francisco, hoje da USP, mas desistiu por causa do racismo forte lá dentro,
advogou na causa abolicionista e libertou mais de 500 escravos), Domingos
Caldas Barbosa, Machado de Assis, Lima Barreto, Solano Trindade, Abdias
Nascimento, Lázaro Ramos.
Estes
e poucos outros (para nosso número) são os figurões que poderiam sustentar
nossa classe média de negros (num sentido aqui não só de riqueza material,
financeira, mas de riqueza simbólica, que já temos, e da qual não sabemos muito
bem como usufruir), mas não conseguimos nos apropriar destes figurões ainda,
apoiarmos neles e fazermos deles símbolos e instrumentos de uma classe
consciente e produtora. Ainda não. Mas chegaremos lá. O filme Besouro, um bom filme, passou
despercebido pelos que mais deveriam abraçá-lo, nós negros. Parabéns, McQueen,
mais uma vez! Vocês são realmente demais.
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