quinta-feira, 10 de julho de 2008

PÔXA, QUE BOSSA! 50 ANOS DEPOIS.

Fui ver a exposição que comemora os 50 anos da criação da bossa nova. Tudo muito bonito. As instalações abrangem os quatro pisos da Oca, prédio arredondado construído por Oscar Niemeyer também na década de 50, dentro do Parque Ibirapuera, em São Paulo.

As principais atrações, para mim, foram a sala do silêncio, dedicada ao minimalismo de João Gilberto, mostrando as técnicas de construção da música, o palco de show virtual, onde se vêem astros e estrelas, como Frank Sinatra e Tom Jobim, cantando Garota de Ipanema em várias versões, e, principalmente, o mar.

O mar, instalado na abóbada do último piso, transmite a sensação de se estar mesmo em outra época, outro lugar. Não estamos em São Paulo do século XXI, nem no Rio, nem no Brasil. Estamos no Rio de Janeiro da década de 50.

Sob o mar, ficamos nós, semi-deitados em poltronas confortáveis, com a cabeça recostada entre pequenas caixas de som, ouvindo bossa nova e sonhando. Tem gente que chega a roncar. Do meu lado, um rapaz dormia e ressonava alto. Cheguei a imaginar que era a ressaca das ondas, mas logo vi que era, no mínimo, uma ressaca mal curada do visitante.

No ambiente da Oca, respirando bossa nova, definitivamente não estamos no aqui e agora. Se fôssemos fazer um rápido paralelo entre 1958 e 2008, o que veríamos?

1958: o Brasil é campeão mundial de futebol pela primeira vez, revelando o maior jogador de todos os tempos, Pelé. É criada uma música que prima pela delicadeza dos movimentos, a graça dos versos, o mínimo que se revela o máximo, chamada de bossa nova. O Rio de Janeiro é lindo. O país passa por uma euforia juvenil, de esperança no futuro, de grandes conquistas e de ótimo desenvolvimento industrial.

2008: O Brasil é campeão em violência urbana. A seleção brasileira perde para a Venezuela, para o Paraguai, o país perde em quase tudo. A polícia mata à toa os cidadãos de bem, enquanto os bandidos também matam, também roubam, também mandam no país. O Rio de Janeiro continua lindo, mas sem a paz da bossa nova. O país não tem mais clima pra bossa. Se em 1958, poderíamos usar a expressão, ‘pôxa, que bossa!’. Hoje, não dá. No mínimo, no mínimo (veja bem), diríamos, e dizemos, com um olhar desolado para o futuro: ‘Pôxa, que bosta!’.

3 comentários:

Laurene disse...

Oi, Giba. Muito engraçado o final do seu texto. Só acho que não podemos exagerar: a bosta saiu da palhoça, ou melhor, da bossa e vice-versa.
Em 1958, esse era um país rural, onde o futebol era amadorismo e a música popular do país não fazia sucesso internacional.

Gilberto G. Pereira disse...

Você tem razão, Lúcio. É que a bossa nova nos passa um sensação de paz, alguma coisa do tipo 'podemos andar com as mãos no bolso, assoviando Garota de Ipanema, sem medo de ser metralhado pela polícia'. Mas, na comparação em termos de arte, foi onde tudo começou e hoje estamos melhores, sem dúvida.

Anônimo disse...

Mira, que coisa mais nua,
mais cheia de nada
é ela, malaca
que fuma e que "passa",
com doce gingado
a caminho do bar...
Moça menor de idade,
do trabalho forçado,
rebola, garota,
é créu do bem pago
é a juventude que eu posso comprar...

Quantos anos tinham as garotas de Ipanema ao serem celebradas pelos olhares e imortalizadas pela canção?
Quantos anos tem as garotas da atual Ipanema ao serem oferecidas aos gringos muitas vezes pelo próprio pai, à luz do dia, ou aos garotos, à luz da noite, nos bailes funk?
Não sei...será que algo mudou em mim ou mim mudou em algo??? Bos..a.