quinta-feira, 19 de março de 2009

TRÊS POEMAS PARA UM MOMENTO DE TRISTEZA

Renúncia

Chora de manso e no íntimo ... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.

Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura ...

A vida é vã como a sombra que passa ...
Sofre sereno e dalma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.

Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira ...


(Manuel Bandeira)


Memento mori I

Nenhum sinal da solidão se vê
lá onde o Amor corrói a carne a fundo.
Dentro da pele, no entanto, você
é só você contra o mundo.

Esta felicidade que abastece
seu organismo, feito um combustível,
é volátil. Tudo que sobe desce.
Tudo que dói é possível


(Paulo Henriques Britto)


O casaco

Um homem estava anoitecido.
Se sentia por dentro um trapo social.
Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado
e sujo.
Tentou sair da angústia
Isto ser:
Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no
lixo.
Ele queria amanhecer.

(Manoel de Barros)

6 comentários:

  1. Olá Giberto,que poemas lindos!Parabéns pela postagem e pelo bom gosto.Um abraço do James.

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  2. Faça como as manhãs de Manoel de Barros, que desabrocham a pássaros. Você pode amanhecer a palavras, renovando-se em verso ou em prosa.

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  3. Olá!!!

    Não conhecia Paulo Henriques Britto, gostei bastante!!!

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  4. Oi, Luciana!
    Paulo Henriques Britto é um dos melhores poetas brasileiros vivos. O poema postado é do livro Trovar Claro. Mas acho que você já o leu atravessadamente, isto é, por meio de traduções. Ele é o tradutor de gente como Philip Roth e John Updike.

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